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...me dê seu cérebro por duas horas e você nunca mais será o mesmo.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Drogas

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta! Depois, quando você quiser, é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raíz da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Daniel", e em seguida "Bruno e Marroni". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüênte, começei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi: "Me dá um CD da "Vanessa Camargo". Era o princípio de tudo.
Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de axé que era para relaxar. Sabe, coisa leve..."Babado Novo", "Asa de Águia", Chiclete com Banana", etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Harmonia do Samba", "Molejão" e muito mais.
Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes. Então, o meu amigo me deu o que eu queria: um CD do "Tchacabum". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela!
Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde o efeito e você começa a querer mais, mais, mais... Começei a freqüêntar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "KLB" e "Exaltasamba", e até comprei a Caras que tinha o "Felipe Dylon" na capa. Minha ambição de vida era ser como a "Kelly Key"! Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra: Entrei para um grupo de pagode. Entretando vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais doze infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais combinados.
Lembro de um dia em que entrei nas Lojas Americanas e pedi a coletânea "As melhores da Banda Calypso". Foi terrível! Eu já não pensava mais! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava mais em nada.
Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando começei a escutar "popozudas", "cachorrinhos", "egüinha pocotó", "boto ou não boto" e "festas no apê". Começei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saía a noite para festas, pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercada por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas: Uns nobres queriam mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferiram o "caminho dos templos". Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominada pela droga mais poderosa do mercado: A droga limpa.
Hoje estou internada em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: Doses cavalares do bom rock, MPB, progressivo e heavy metal. Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao blues e ao jazz e até mesmo a Mozart e Bach.
Queria aproveitar a oportunidade e aconcelhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado, alienado, inculto, manobrável, consumível e descartável. Vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com porcarias, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distingüir entre o que é droga ou não, faça o seguinte:
1°. Não ligue a tv no domingo à tarde, nem o som na rádio local;
2°. Não entre em carros com adesivos "Fui...";
3°. Se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe, do Gugu, do "Leão" e programas similares;
4°. Mulheres gritando histéricamente é outro indíco;
5°. Não compre nenhum CD que tenha mais de 6 pessoas na capa com núvens ao fundo;
6°. Cuidado com "artistas" que mudam de gênero musical para venderem mais discos;
7°. Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados;
8°. Tenha bastante cuidado com CDs que tenham vendido mais de um milhão de cópias no Brasil!;
9°. Faça de tudo para não escutar músicas que são tocadas em carros com o porta-malas aberto;
10°. Não escute em demasia nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.
Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela! Eu sei que você consegue! DIGA NÃO ÀS DROGAS!

Luís Fernando Veríssimo